(Li poesias!
Peguei um tacabo na tabacaria)
Encosto a minha cabeça na quina de um quarto escuro.
Recordações voam e levantam a poeira antiga,
quero me afastar para onde o infinito se acabe,
para onde já não haja universo nem nada daqui...
Hoje afastei-me por um instante eterno e corrompido
por um estreito recordar de outra face, não a sua,
que nada fez-me sentir, fez-me sentir nada!
Então caiu como tempestade no meu ser o teu rosto
(calado, imparcial, desconexo, pintura a olho)
que fez-me gelar o peito e trazer secura aos lábios.
Eu seco-me por completo, já não sei o que faço.
Canto e toco time after time, tento ser desconexa
e tendo a cair por tentar andar sem pressa.
Eu hoje vi minha face no céu negro sem estrelas...
descobri-me oca, sem sentimento por mim.
E cansei-me da cidade, cansei-me do nada.
Calei-me às circunstâncias que também a nada me levam.
Ontem foi um sonho seresteiro, cheio de trovas e bucolismo.
Hoje limpa-me o ser a história secreta que guardavam as árvores.
Ai! Vou ler Álvaro de Campos e imaginar um homem velho...
para ter gosto da vida e ver que no nada há metafísica
pois Alberto Caeiro também me traz volúpia !
Faço de suas palavras hoje a minha religião.
Pra que pensar em Deus? Ora, pra quê?
"Pois Deus quis que o não conhecêssemos".
Hoje eu beijaria Alberto,
Daria amor ao Álvaro,
e a Ricardo Reis eu daria um tapa!
Para deixar de ser tão belo,
e ter um pouco de coisas repugnantes
pois adoro!
Ora, agora já não me tenho hora!
Nem a nada, nem por de graça.
Afastam-se os campos e vêem-me os montes,
pintados de branco. Hoje tudo é neve.
Desejo ir em linha reta à uma tabacaria!
Quem me dera se eu pudesse num dia de verão o meu olhar...
estar todo ao livro Guardador de Rebanhos do meu amado poeta!
Pois agora o amor ri na minha cara e arranca-me lágrimas.
Só quero Fernando! Quero os meus Fernandos!
A letra A do seu nome, um Cancioneiro!
Ai sim, nestes poucos acordes eu canto o meu dia.
Violão, francês e poesia.
Paz, amor e empatia!
Gabrielle Castaglieri
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
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